História

Igarapé-Miri

“Princesinha do Baixo Tocantins”
“Capital Mundial do Açaí”
“Caminho de Canoa Pequena”

Etimologia

Traduzido do tupi, Igarapé-Miri significa “Caminho de Canoa Pequena”, da junção de ygara (canoa), pé (caminho) e mirim (pequeno). O nome faz referência ao rio homônimo que banha a cidade, o mesmo não permite a entrada de grandes embarcações.


História

A região onde hoje se encontra o Estado do Pará, foi diversas vezes invadida desde o início do século XVI, por holandeses e ingleses, que tinham como objetivo a exploração de especiarias como: sementes de urucum, guaraná e pimenta. Com a finalidade de consolidar a região como território português, em 1616, foi fundado o Forte do Presépio, primeira construção significativa, na então chamada Santa Maria de Belém do Grão-Pará, a atual capital do estado, Belém. Além de defender o território, expandindo a ocupação pelo vale amazônico, a expulsão dos invasores do litoral, também possibilitou o impulso militar dos portugueses na região e a exploração da biodiversidade local.

Nos últimos anos do século XVII, já era forte o interesse pelas madeiras amazônicas utilizadas na construção de embarcações ou edifícios no Reino. Naquela época, foi estabelecido em terras ribeirinhas, onde hoje está a Cidade de Igarapé-Miri, uma Fábrica Nacional para extração, aparelhamento e depósito de madeiras, que dali eram exportadas para Belém em abundância e das melhores qualidades. Esse estabelecimento chamou a atenção de colonos para o local, começando assim o povoamento na região.

Das Fábricas Nacionais da Província do Grão-Pará, a de Igarapé-Miri era a mais proficiente e de maior renome, talvez, pelo fato de estar situada nos terrenos planos, sólidos e férteis que se estendiam desde a margem do Rio Sant’Ana de Igarapé-Miri, pelo centro, até a descida do Rio Itanimbuca, bem como, pela abundância de caça, a salubridade do lugar e o fato de não ser conhecido naquela localidade, nenhum caso das febres paludosas que existem em grande parte dos interiores da Amazônia.


A Sesmaria

João Mello Gusmão, conseguiu em 1º de outubro de 1710, do governador e capitão-general do Maranhão, Cristóvão da Costa Freire, a concessão de duas léguas de terras em Igarapé-Miri, as quais iam do Rio Cataiandeua, prolongando-se até o Rio Santo Antonio. Entre as terras cedidas a João Mello Gusmão, estava o terreno onde foi estabelecida a Fábrica Nacional. Este ato do governo a favor de quem sequer residia nos terrenos cedidos, causou grande descontentamento entre os então posseiros, agricultores e comerciantes que ali haviam se estabelecido. Grande parte dos prejudicados, dirigiram suas reclamações ao governador que não os atendeu, sendo a sesmaria confirmada pelo Rei Dom João V, em 20 de janeiro de 1714.

A demarcação da sesmaria foi requerida por João Mello Gusmão, e contestada por diversos posseiros, que exigiam elevadas indenizações pelas benfeitorias existentes nos terrenos, por isso, Gusmão, foi obrigado a vender-lhes, a maior parte das terras, cabendo ao agricultor e comerciante português, Jorge Valério Monteiro, comprar a parte onde estava situada a referida fábrica. Jorge Valério Monteiro, casou-se com Anna Gonçalves de Oliveira, filha do agricultor Antonio Gonçalves de Oliveira. Devido ao seu casamento e a boa compra que fez, viu prosperar o seu comércio, e em agradecimento a Nossa Senhora Sant’Ana, madrinha de sua esposa, mandou construir uma linda capela, onde era anualmente festejada a imagem da santa.


A Paróquia de Igarapé-Miri

Precisando Jorge Valério educar seus filhos na Europa, resolveu vender ao agricultor João Paulo de Sarges Barros, suas propriedades, inclusive o terreno onde estava a capela. Sarges de Barros, prosperou muito após adquirir o terreno de Jorge Valério e continuou a festejar Nossa Senhora Sant’Ana, agora com maior riqueza, mandando abrir uma grande área nas vizinhanças da capela, onde anualmente eram construídas centenas de barracas para acolher as pessoas que vinham para as festas ali celebradas.

Detalhe do “Prospecto da Freguezia de Sta Anna, no Garapé-Mirim”, de André SchWebel (1756).

A notícia da fertilidade do solo de Igarapé-Miri, a riqueza de seus habitantes e o brilhantismo dessas festas, corriam longe, motivo pelo qual para lá imigravam muitos estrangeiros, que se estabeleciam como comerciantes e agricultores. Tudo isso contribuía para a riqueza de Sarges Barros, que em louvor a Nossa Senhora Sant’Ana, mandou reconstruir a capela, dando-lhe então a forma de uma igreja. João Paulo de Sarges Barros, tinha um filho, de nome João Sarges de Barros, estudando para ser padre. Era um grande desejo do pai, que esse filho um dia virasse vigário de sua amada igreja. Com este intuito, entregou a mesma ao Bispo Dom Frei Miguel de Bulhões, o qual pela pastoral de 29 de dezembro de 1752, a transformou em paróquia colada.

O Bispo voltou em visita a Paróquia Colada de Igarapé-Miri em junho de 1754, e em sua presença compareceu João de Sarges Barrros, que declarou doar à imaculada Nossa Senhora Sant’Ana, o terreno que ali possuía. Dessa doação foi lavrado o seguinte termo, em 25 de junho do referido ano, sendo testemunhas o beneficiado João Coelho da Silva, Manuel Caetano de Azevedo, Manuel Pereira Soares, Pedro Celestino Lobato, Alexandre Luiz da Silva, Antonio Gonçalves de Aguiar e Romualdo de Sá e Souza. Conforme desejo de seu pai, o Padre João de Sarges Barros foi o primeiro pároco da Paróquia Colada de Igarapé-Miri, tendo falecido no ano de 1777. A fundação da Paróquia de Igarapé-Miri, deu ao povoado novos elementos de vida, desenvolvimento, grandeza e prosperidade, concorrendo para isso, não somente a fertilidade do solo, mas também a existência de um furo em um igarapé chamado Rebibio, afluente do Rio Moju, que varava no Igarapé-Assú (Rio Igarapé-Miri Velho), afluente do Rio Igarapé-Miri.

Entardecer no Rio Igarapé-Miri, que deu nome a cidade, que aparece ao fundo. Foto: Railson Wallace Rodrigues


O Histórico Canal de Igarapé-Miri

Velha visão da vegetação do Canal de Igarape-Miri. por Edouard Riou, 1867

A fertilidade do solo de Igarapé-Miri fez com que os seus habitantes prosperassem. Porém esse desenvolvimento era entravado pela difícil locomoção para a capital Belém, pois as viagens pela baía, a remo, eram impraticáveis. Em 1810, segundo o Tenente-Coronel Agostinho Monteiro, existia no rio Igarapé-Miri uma fazenda agrícola pertencente a Sebastião Freire da Fonseca, mais conhecido por Carambolas, natural de Mazagão na África. Carambolas foi o idealizador da escavação do Canal, para substituir o obstruído Furo Velho, havendo ele mesmo escolhido o traçado em linha reta entre os rios Igarapé-Miri e Mojú.

No ano de 1821 Carambolas começou os serviços de escavações que se prolongaram por longos meses. Os trabalhos foram iniciados a partir do rio Igarapé-Miri, no dia 21 de maio de 1821, e somente quando já faltavam pouco mais de cem metros, no dia 7 de agosto de 1822, é que começaram as escavações a partir do lado da margem do rio Mojú.

Porém, aconteceu que o grupo de escravos que escavavam a partir do rio Igarapé-Miri, e os que escavaram a partir do rio Mojú, deixaram de pé um paredão de cerca de quatro metros de terra, abrindo apenas, no meio dele uma estreita passagem. No dia 23 de novembro de 1823, os escravos estavam escavando, e sobreveio uma violenta enchente no rio Mojú, provocando chamado Fenômeno das Águas Vivas, que fez desabar o paredão, matando 18 escravos. No local onde o paredão caiu, formou-se uma pequena queda d’água.

Aberto o Canal, este recebeu alguns reparos por parte do governo da província.


Criação do Município, Vila e Cidade de Igarapé-Miri

Vila Sant’Ana de Igarapé-Miri, por Edouard Riou, 1867

Na vigência do regime político imperial, em outubro de 1843, um decreto criou o Município de Igarapé-Miri, sendo a freguesia que abrigava a igreja de Sant’Ana, elevada a categoria de vila.

No dia 23 de maio de 1896, a lei estadual nº 438 eleva a então Vila Sant’Ana de Igarapé-Miri a categoria de cidade, tendo sua denominação simplificada, pela lei estadual, passando a condição de cidade com o nome de Igarapé-Miri.
Pelo decreto estadual nº 6, de 4 de novembro de 1930, o município de Igarapé-Miri foi extinto, sendo seu território anexado ao município de Abaetetuba e os seus distritos passando a figurar como zona administrativa.
Pelo decreto estadual nº 78, de 27 de dezembro de 1930, o município é criado novamente e é constituído por 2 distritos: Igarapé-Miri e do extinto município de Moju.
Pelo decreto estadual nº 931, de 22 de março de 1933, desmembra do município de Igarapé-Miri o distrito de Moju é restabelecido como sub-prefeitura.

Na divisão territorial de 1937-38, o município de Igarapé-Miri foi dividido em quatro distritos: Igarapé-Miri (sede), Anapu, Maiauatá e Meruú, que ainda hoje constituem os núcleos populacionais mais expressivos.

Cidade de Igarapé-Miri com destaque as torres da Igreja Matriz de Sant’Ana, prédio mais antigo da cidade. Foto: Railson Wallace


Barão e Baronesa de Igarapé-Miri

Antonio Nunes, Barão de Igarapé-Miri

Antônio Gonçalves Nunes, Barão de Igarapé-Miri, nasceu em Belém no dia 28 de julho de 1819. Foi um advogado, político, jornalista e educador brasileiro. Filho de José Antonio Nunes e de Gertrudes Rosa da Cunha Ledo, brasileira, filha de Antonio Gonçalves Ledo e de Dona Domingas Valente da Cunha Ledo, oriundos de Mazagão, colônia portuguesa no Marrocos, Norte da África.

Casado com Rita Gonçalves Acatauassú, com quem teve 3 filhos: Antônio Acatauassú Nunes, Rita Acatauassú Nunes Bezerra e Domingos Marcellino Acatauassú Nunes. Formado pela Faculdade de Direito de Olinda em 1844, exerceu a profissão de advogado. Era proprietário de um engenho a vapor de fabricação de açúcar denominado de São Domingos, no Rio Maiauatá, município de Igarapé-Miri.

Antônio Gonçalves Nunes foi um dos chefes do Partido Conservador da Província do Grão Pará. Serviu o lugar de diretor da Instrução Pública da Província, o de membro do conselho diretivo da mesma instituição. Foi eleito deputado à Assembleia Provincial em diferentes legislaturas. Nas eleições de maio de 1852 para deputado Provincial, acaba por ficar como primeiro suplente. Sua entrada oficial na Assembleia será na legislatura de 1854, que teve sua abertura em 15 de agosto deste mesmo ano. Nesta legislatura serviu de 1° secretário, e vai se manter interruptamente, com exceção de 1855, nestas funções até 1863. No fim deste mandato retirou-se da Assembleia Legislativa, retornando somente a esta casa no ano de 1868, sendo reeleito em 1869, para em 1870, assumir sua presidência. Nunes ocupara o cargo de presidente consecutivamente por 3 vezes, sendo nas legislaturas de 1879 a 1872. Servindo sempre com dignidade e sobre a admiração de seus pares. No final de seu mandato de Deputado e Presidente da Câmara, já se encontrava um pouco decepcionado e desiludido com a política, ocorrendo alguns desentendimentos com alguns membros do se partido, o Conservador, e com o próprio Cônego Siqueira Mendes, então presidente da Província. Mesmo assim se lança candidato para o ano de 1873, saindo novamente vitorioso e sua credibilidade confirmada pelas urnas.

É condecorado com o oficialato da Imperial Ordem da Rosa, que lhe foi dado em carta de 12 de julho de 1876, por ocasião dos serviços que prestou a colonização estrangeira.; Barão de Igarapé-Mirim em decreto de 3 de março de 1883. Escreveu durante algum tempo na imprensa, expondo sobre as vantagens que podem auferir do cuidado e desenvolvimento da agricultura, que considerava como uma das fontes da riqueza publica. É o autor da obra “O cônego Manoel José de Siqueira Mendes e as ruínas do Pará”, publicado pela Typ. Commercio do Pará, em 1875. No ano de 1846 vai participar, juntamente com outros intelectuais da Província, da Fundação da Sociedade Phylomatica Paraense , esta sociedade tinha por finalidade o progresso das Belas Letras, da arqueologia, da história e da geografia da província. Esta mesma sociedade vai dar origem a um jornal que teve sua primeira edição impressa a 30 de setembro de 1846 , e no qual Antonio foi fiel colaborador, deixando para posteridade diversos artigos.

Faleceu no dia 21 de novembro de 1898. Sendo sepultado no Mausoléu do Cemitério da Soledade em Belém do Pará.

Rita Acatauassú, Baronesa de Igarapé-Miri

Rita Borges Machado Acatauassú Nunes, Baronesa de Igarapé-Miri, nasceu no Município de Igarapé-Miri, no ano de 1844. Filha do Comendador Domingos Borges Machado Acatauassú e de Dona Ana Teresa Gonçalves Acatauassú, foi prometida em casamento ao senhor Antônio Gonçalves Nunes, aos oito dias de nascida, sendo estipulado que o noivo voltaria quando a moça completasse seus quinze anos para casar.

Durante esse período, Rita Borges, viveu na fazenda de seu pai, que ficava a poucos minutos da Vila Sant’Ana de Igarapé-Miri, na localidade Barro Alto. A essa altura, Antônio Gonçalves Nunes já havia recebido o título de Barão de Igarapé-Miri, conferido pelo imperador Dom Pedro II. Nesta ocasião, Rita completou seus quinze anos, e ele voltou a Fazenda Barro Alto, procurando saber com Domingos Borges Machado Acatauassú, se a promessa estava firme. Com a confirmação foi apresentado a noiva, que o esperava conforme seu pai a havia orientado. Imediatamente foi marcado o casamento, que aconteceu com uma belíssima festa. Após o casamento a noiva passou a chamar-se Rita Borges Machado Acatauassú Nunes, Baronesa de Igarapé-Miri, e foi viver com seu marido no Engenho São Domingos, localizado no Rio Maiauatá.

Rita apesar de jovem, chegou muitas vezes a intervir e abrandar o barão quando este tinha algum aborrecimento sério. Além de que era generosa e benevolente com a população local, promovendo um grande trabalho social na região. Rita Borges Acatauassú Nunes, faleceu no ano de 1893.


Grupo Escolar Professor Manoel Antonio de Castro, a pioneira da Educação Miriense

Alunos em frente ao primeiro prédio do Grupo Escolar de Igarapé-Miri. 1928.

A história da instituição educativa situada em Igarapé-Miri, hoje nomeada como Escola Municipal de Ensino Fundamental Manoel Antônio de Castro, remonta ao início do século XX, quando foi criado o Grupo Escolar Estadual que constituiu a sua experiência embrionária em nosso município.

Novo prédio do Grupo Escolar de Igarapé-Miri

O Grupo Escolar de Igarapé-Miri, primeira designação recebida, foi inaugurado no dia 27 de abril de 1904. Sendo a primeira escola miriense, com sede na Rua Rui Barbosa, onde hoje se localiza a grande torre da Telemar. A tão almejada escola começou a funcionar com o curso primário, cobrindo de 1ª a 5ª séries. Seu primeiro diretor foi o professor Aristides dos Reis e Silva. Na época a cidade de Igarapé-Miri era bem pequena e apenas essa escola era suficiente para atender a demanda de estudantes. O tipo de construção era em enchimento, ou seja, um tecido de estacas preenchido com barro e finalmente rebocado com massa cimentada. Está arrolada no documentário “a Educação no Pará” (Pará, 1987) o Grupo está dentre as mais antigas escolas do interior do estado.

Em 1946 o antigo prédio do Grupo escolar começou a ruir, e para a segurança dos alunos e funcionários as aulas passaram a ser lecionadas em uma casa alugada, situada na Rua 15 de Novembro. No ano seguinte o Grupo retornou para a Rua Rui Barbosa, agora sendo vizinho das ruínas do saudoso Grupo Velho, como ficou conhecido.

No dia 21 de julho de 1949, aproveitando o período da festa da padroeira da padroeira do município, o prefeito Alcides Pinheiro Sampaio inaugurou o prédio situado de fronte ao Palacete Senador Garcia. O nome da escola é uma homenagem ao Professor Manoel Antônio de Castro, um filho ilustre de Igarapé-Miri, que se destacou em Belém. O histórico prédio que outrora sediou a primeira escola de nosso município, hoje sedia uma escola de artes.


O Ciclo Canavieiro em Igarapé-Miri

Engenho São João no Rio Furo do Seco

Com a chegada dos europeus, coube a Cristovão Colombo a introdução do plantio da cana na América, em 1493, na hoje República Dominicana. No Brasil sua chegada é creditada a Martim Afonso de Souza, que teria trazida as primeiras mudas em 1532, iniciando seu cultivo na Capitania de São Vicente, onde constrói o primeiro engenho de açúcar. No entanto, é no Nordeste, principalmente nas Capitanias de Pernambuco e da Bahia, que os engenhos de açúcar se multiplicaram.

É a partir de Pernambuco, através de pernambucanos, que a cana é introduzida no Estado Pará, tendo chegado a Igarapé-Miri, através de um cidadão conhecido apenas pela alcunha de Pernambuco, que a plantou, inicialmente, no Rio Anapú, expandindo-se, a partir daí, para outras regiões do Município.

Data de 1712 a instalação de um pequeno engenho movido a água, o qual foi chamado de Santa Cruz, considerado o primeiro do município, onde fabricava-se mel, rapadura, açúcar batido e, posteriormente, aguardente. Este teria sido a origem de uma série de engenhos que viriam a ser instalados no município, que podem ter chegados, no auge de seu funcionamento, a um número próximo de cem. Estes engenhos, produtores de cachaça, foram responsáveis por um período de grande desenvolvimento econômico de Igarapé-Miri, tendo a Coletoria de Rendas Federais local, nos anos de 1938 e 1939, alcançada a maior renda do Norte do Brasil, com os impostos arrecadados, principalmente, em função da produção e venda deste produto.

A Matéria prima dos engenhos era a cana-de-açúcar, a partir da qual era produzida a cachaça ou aguardente. Para obter este produto o dono de engenho tinha que financiar o agricultor. O financiamento era feito em dinheiro e o contrato era verbal, ou seja, segundo o nosso informante, não se tinha nenhuma garantia quanto ao cumprimento do acordo firmado, podia acontecer de, estando crescida a cana, a mesma fosse vendida para outro engenho. Neste caso, na tentativa de evitar malogros, o negócio era feito com pessoas de extrema confiança.

Ribeirinho miriense cortando cana

A plantação podia ocorrer tanto na terra do agricultor, como na do dono do engenho, ou na de terceiros. Segundo Agenor Martins, terra para plantar cana, nesse tempo, não era problema, pois as pessoas não tinham outro destino para ela. O negócio era fechado na base do terço. Este processo se dava da seguinte forma: Um terço da produção da cana era de quem havia realizado a plantação, um terço do dono da terra e, o terço restante do dono do engenho que tinha financiado o plantio. A partilha acabava se dando, no entanto, em relação ao produto final, ou seja, em relação à cachaça produzida.

Como, geralmente, nem o agricultor nem o dono do terreno tinham para quem vender a cachaça, eles acabavam recebendo em dinheiro as partes que lhes cabiam por direito, ou seja, o dono do engenho comprava a parte dos outros dois sócios. Do valor total destinado ao produtor era descontado o valor recebido a título de financiamento da produção, este recebia então, em dinheiro, o saldo a que tinha direito, apos concluído o negócio.

A produção de cachaça e, sua comercialização, foi de grande importância para a economia do município de Igarapé-Miri. No auge da sua produção, no princípio do século XIX, o município chegou a ter cerca de 100 engenhos em funcionamento dentro seus limites territoriais.

Atualmente não existe mais nenhum engenho em funcionamento no município, daí a importância deste texto, como uma contribuição para a memória desta atividade, que perdurou por pelo menos três séculos em nosso município.

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